segunda-feira, 16 de abril de 2007

Rio: a Cidade Maravilhosa e seus contrastes





"...A cidade. Vista do Alto ela é fabril e imaginária, se entrega inteira como se estivesse pronta. Vista do Alto, com seus bairros, ruas e avenidas, a cidade é o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém. Mas vista de perto, revela o seu túrbido presente, sua carnadura de pânico: as pessoas que vão e vêm que entram e saem, que passam sem rir, sem falar, entre apitos e gases. Ah, o escuro sangue urbano movido a juros "(A Vida Bate – Ferreira Gullar).


Estava voltando para casa do trabalho e meu cérebro parecia um turbilhão de idéias e pensamentos, pensando, pensando e pensando sobre minha viagem ao Rio, cidade maravilhosa com uma beleza natural, quase uma Babel pós-moderna, onde o carioques se torna tímido ao meio das diferentes línguas que nessa cidade aterrissam em busca da beleza, da alegria, e do calor: são franceses, americanos, alemães, espanhóis, argentinos e muitos outros.
Uma cidade de beleza mas também de pobreza, com toda a grandiosidade de uma metrópole é impossível dissociar das imagens da favela, do vendedor ambulante, dos moradores de rua. E eu tentando me distrair com toda a imponência da capital que cresci vendo apenas através da grande tela, e ao mesmo tempo em que o encanto me tomava por passar pelos lugares antes só conhecidos pela novela não consegui tirar os olhos da vida oposta, a miséria que envolve a cidade, o descaso com pequenas atitudes:
Andar por Ipanema no final da tarde vejo apenas os sinais de um dia cheio, mais um dia de praia cheia pela areia vejo papel, coco, latinhas de refri e cerveja completando a paisagem, onde está a Copacabana e a Ipanema do meu imaginário construído através da TV, nada muito diferente do Piscinão, a única coisa é que estamos na badalada e nobre zona sul. E apesar de vivermos no século 21 alguma semelhança com o Rio Imperial não é mera coincidência, “os negros estão lá, me disseram que são livres”! mas não sei, estão morando na rua ou no morro, passam o dia vendendo o biscoito globo.Chego à praia alugo cadeira e guarda sol, e para meu mal estar não sou eu que a carrego e sim um jovem e belo negro, que vem atrás de mim monta meu acampamento e sai me dizendo que se precisar é só chama-lo imediatamente o que vem na minha cabeça é uma ilustração no meu livro de história do colégio “O nobre” e logo atrás seu pajem negro carregando suas bugigangas, 119 anos depois me vejo representando aquela figura que tanto me impressionou pela sulbaternização. Dizem que são livres, mas até que ponto? São explorados até pela terceirização dos serviços oferecidos na praia. Fui comprar um milho.
-Custa 2.50
-só tenho 2.00, não faz por esse preço:
- não posso moça, o carrinho não é meu.
Aí descubro que na praia existe a tercerização gastrônomica, há os empresários do carrinho de milho, do salgado, do sanduíche, do chá mate, até dos alugueis da cadeira e do guarda sol.
Andar no Rio não é só contemplar a beleza ou se indignar pela pobreza, mas resgatar parte da história, estar na Cinelândia ou na Candelária é imaginar e sentir o clima da passeata dos 100 mil, o maior protesto contra a ditadura militar, assim como a comoção de 50 mil pessoas que saíram as ruas pela morte do Estudante Edson. Lugares profanos e sagrados, profano por ser o espaço da violência, da chacina contra os jovens e sagrado por serem os lugares onde de forma concreta ocorreram manifestações e conflitos sociais em busca da liberdade e da cidadania.
parece que estabeleci uma relação dual, um misto de alegria e dor, penso que por lá tudo é dialético, é tese e é antítese... é a riqueza e a pobreza, é a dura batalha pela sobrevivência mas com a leveza de viver no Rio e serrrrr carioca, e de amar de coração a sua escola de samba e é isso que fez aceitar meu sentimento, um misto de prazer e desprazer.

Sami

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